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Sinais subtis de enviesamentos raciais entre professores do 3.º ciclo do ensino básico em Portugal

Rui Costa Lopes e Mafalda F. Mascarenhas, ICS, Universidade de Lisboa; Ricardo Borges Rodrigues, Iscte-Instituto Universitário de Lisboa;
Projeto selecionado no concurso para apoiar projetos de investigação sobre educação e sociedade

Em Portugal, os estudantes negros do ensino secundário têm mais do dobro da probabilidade de ser encaminhados para o ensino profissional do que os seus homólogos brancos, um caminho que inibe o acesso ao Ensino Superior e que os pode colocar em desvantagem. As explicações para as desigualdades nos resultados escolares centram-se frequentemente no aproveitamento escolar dos estudantes, nos recursos familiares e em fatores estruturais, caso do local de residência. No entanto, uma vez que as perceções e recomendações imbuídas de enviesamentos raciais dos professores do 3.º ciclo do ensino básico também podem influenciar este fenómeno, o inquérito SCOLOR foi realizado para avaliar estas dimensões numa amostra de cerca de 1.000 professores do 3.º ciclo do ensino básico em Portugal.

Este estudo de investigação procurou responder à pergunta: «Os professores fazem recomendações diferentes em função de os estudantes serem negros ou brancos?». Pretendia também fornecer uma perspetiva sobre como as recomendações e expectativas dos professores em relação aos percursos escolares dos estudantes negros e brancos podem ser influenciadas pelas suas perceções potencialmente enviesadas quanto ao aproveitamento e comportamento escolar.

Os resultados do estudo não fornecem evidências claras e robustas de enviesamentos sistemáticos entre os professores brancos portugueses em relação aos estudantes negros. No entanto, várias exceções importantes revelam sinais subtis de tais enviesamentos. Em particular, os resultados demonstram que as informações sobre desempenho e comportamento são mobilizadas de tal forma que algumas recomendações favorecem os estudantes brancos, enquanto outras são desfavoráveis aos estudantes negros. Além disso, o simples facto de um estudante ser branco ou negro foi suficiente para despoletar diferentes escolhas de palavras em perguntas abertas.
Pontos-chave
  • 1
       Uma amostra a nível nacional não evidenciou padrões de enviesamentos consistentes entre os professores brancos, no que toca às suas perceções e recomendações para estudantes brancos e negros em Portugal a respeito dos seus percursos escolares futuros, embora tenham sido encontradas exceções importantes.
  • 2
       Os professores mobilizaram as informações sobre o comportamento e o desempenho de tal forma que fizeram recomendações enviesadas específicas, consoante se tratasse de um estudante branco ou negro.
  • 3
       Embora não se tenham verificado diferenças estatisticamente significativas entre os professores com diferentes características sociodemográficas, uma tendência consistente indica que os professores inexperientes, em oposição aos experientes, demonstram sinais subtis de perceções e recomendações enviesadas que favorecem os estudantes brancos.
  • 4
       Ao referir-se a um estudante, os professores fizeram diferentes escolhas de palavras em função de ele ser branco ou negro.

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