Artigo
Efeitos da pandemia de covid-19 nas práticas familiares e no desenvolvimento linguístico das crianças
Irene Cadime, Iolanda Ribeiro, Fernanda Leopoldina Viana, Universidade do Minho, Portugal; Ana Lúcia Santos, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal; María Teresa Martín-Aragoneses, Facultad de Educación de la Universidad Nacional de Educación a Distancia, Espanha;
Projeto selecionado no concurso Flash para apoiar pesquisas sobre Educação e Sociedade
O presente estudo visou avaliar o nível de desenvolvimento linguístico de crianças com idades entre os dois anos e meio e os três anos e meio, cuja primeira etapa da vida ocorreu em contexto da pandemia, explorando também as práticas familiares que podem estar associadas ao desenvolvimento desta competência. Foram recolhidos dados de 402 famílias através de relato parental (o inquérito FamPraLan). O estudo mostra que a percentagem destas crianças com desenvolvimento linguístico abaixo do esperado é muito superior comparativamente ao período pré-pandemia.
No que diz respeito às práticas familiares, a exposição das crianças à televisão foi significativamente maior durante os confinamentos, os isolamentos e as quarentenas, enquanto a frequência de leitura de livros se manteve relativamente estável ao longo do tempo, desde o início da pandemia até à atualidade. A escolaridade das mães parece ter sido um fator determinante nas práticas familiares adotadas, com efeitos no desenvolvimento: em famílias com mães que possuem um grau de ensino superior houve uma menor exposição à televisão e uma maior frequência de leitura para as crianças, estando esta última prática notavelmente associada a melhores níveis de desenvolvimento linguístico. O uso de máscara por parte dos cuidadores que passavam a maior parte do dia com as crianças e o número de horas que as crianças passaram a ver televisão não se encontram associados a piores níveis de desenvolvimento da linguagem.
No que diz respeito às práticas familiares, a exposição das crianças à televisão foi significativamente maior durante os confinamentos, os isolamentos e as quarentenas, enquanto a frequência de leitura de livros se manteve relativamente estável ao longo do tempo, desde o início da pandemia até à atualidade. A escolaridade das mães parece ter sido um fator determinante nas práticas familiares adotadas, com efeitos no desenvolvimento: em famílias com mães que possuem um grau de ensino superior houve uma menor exposição à televisão e uma maior frequência de leitura para as crianças, estando esta última prática notavelmente associada a melhores níveis de desenvolvimento linguístico. O uso de máscara por parte dos cuidadores que passavam a maior parte do dia com as crianças e o número de horas que as crianças passaram a ver televisão não se encontram associados a piores níveis de desenvolvimento da linguagem.
Pontos-chave
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1Um vocabulário muito inferior ao esperado é observado em 34,3% das crianças cujos primeiros anos de vida se desenrolaram em contexto da pandemia. Em relação à complexidade sintática das frases produzidas, 19,2% das crianças situa-se também neste nível de desempenho.
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2O uso de máscara por parte dos cuidadores não está associado a piores níveis de desenvolvimento linguístico, mas crianças que foram infetadas com a covid-19 possuem melhores níveis de desenvolvimento da linguagem.
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3Uma maior frequência de leitura de livros está associada a melhores níveis de desenvolvimento linguístico, sendo esta prática bastante mais comum em famílias em que as mães completaram um grau de ensino superior.
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4Durante os confinamentos, os isolamentos e as quarentenas, as crianças passaram, em média, cerca de 2½ horas por dia a ver televisão. Este número sobe para quase 3 horas em famílias cujas mães não possuem um grau de ensino superior, sendo de menos de 2 horas em famílias com mães mais escolarizadas. No entanto, esta prática não se associou ao nível de desenvolvimento linguístico das crianças.
