Artigo
Efeitos da pandemia de covid-19 nas práticas familiares e no desenvolvimento linguístico das crianças
No que diz respeito às práticas familiares, a exposição das crianças à televisão foi significativamente maior durante os confinamentos, os isolamentos e as quarentenas, enquanto a frequência de leitura de livros se manteve relativamente estável ao longo do tempo, desde o início da pandemia até à atualidade. A escolaridade das mães parece ter sido um fator determinante nas práticas familiares adotadas, com efeitos no desenvolvimento: em famílias com mães que possuem um grau de ensino superior houve uma menor exposição à televisão e uma maior frequência de leitura para as crianças, estando esta última prática notavelmente associada a melhores níveis de desenvolvimento linguístico. O uso de máscara por parte dos cuidadores que passavam a maior parte do dia com as crianças e o número de horas que as crianças passaram a ver televisão não se encontram associados a piores níveis de desenvolvimento da linguagem.
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1Um vocabulário muito inferior ao esperado é observado em 34,3% das crianças cujos primeiros anos de vida se desenrolaram em contexto da pandemia. Em relação à complexidade sintática das frases produzidas, 19,2% das crianças situa-se também neste nível de desempenho.
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2O uso de máscara por parte dos cuidadores não está associado a piores níveis de desenvolvimento linguístico, mas crianças que foram infetadas com a covid-19 possuem melhores níveis de desenvolvimento da linguagem.
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3Uma maior frequência de leitura de livros está associada a melhores níveis de desenvolvimento linguístico, sendo esta prática bastante mais comum em famílias em que as mães completaram um grau de ensino superior.
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4Durante os confinamentos, os isolamentos e as quarentenas, as crianças passaram, em média, cerca de 2½ horas por dia a ver televisão. Este número sobe para quase 3 horas em famílias cujas mães não possuem um grau de ensino superior, sendo de menos de 2 horas em famílias com mães mais escolarizadas. No entanto, esta prática não se associou ao nível de desenvolvimento linguístico das crianças.
