Artigo
Digitalização, automatização e o mercado de trabalho em Portugal
Luis Manso e Rui Roberto Ramos, Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLABOR); Tiago Santos Pereira, Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLABOR) e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES-UC);
Projeto selecionado na Flash Call «Tecnologia e Sociedade»
O presente artigo é realizado com base na pesquisa que procura dar resposta ao impacto da transformação digital (doravante digitalização) nos postos de trabalho e no emprego, a partir de uma análise focada no mercado de trabalho em Portugal. A fim de explorar o impacto da digitalização na força de trabalho portuguesa, os autores analisaram os dados da pesquisa, recolhidos entre abril e julho de 2022, a partir de uma amostra representativa de 2.000 trabalhadores no ativo em Portugal. Foi efetuada uma análise da mudança tecnológica a partir de uma abordagem baseada em tarefas digitais e uma abordagem enviesada pelas rotinas, para explorar de que forma a digitalização, a rotinização e a automatização digital moldam o mercado de trabalho português. A automatização digital refere-se sobretudo à automatização de tarefas de trabalho resultantes do processo da transformação digital. Foram desenvolvidos dois índices para medir o nível de digitalização e rotinização das profissões, ficando demonstrado que a digitalização é mais predominante entre as profissões altamente qualificadas. No entanto, não foi encontrada nenhuma relação entre a rotinização e as competências. Ficou ainda demonstrado que os técnicos e trabalhadores do apoio administrativo (profissionais altamente qualificados e profissionais com qualificações médias, respetivamente) estão mais expostos à automatização digital, representando, em 2021, aproximadamente 22% da força de trabalho portuguesa. Isto vem apoiar o argumento dos autores de que a automatização digital em Portugal não é necessariamente um fenómeno resultante de um enviesamento pelas competências.
Pontos-chave
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1A digitalização é mais predominante entre as profissões altamente qualificadas: Índice de Digitalização (ID) superior a 0,5.
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2A aparente falta de relação entre a rotinização e as competências sugere que a automatização em Portugal não é um fenómeno sujeito necessariamente a um enviesamento pelas competências.
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3A maioria das profissões apresenta um risco relativamente baixo de automatização digital, quer porque as tarefas se caracterizam por níveis baixos de digitalização ou por não estarem muito rotinizadas: Índice de Digitalização (ID) ou Índice de Rotinização (IR) abaixo de 0,5.
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4Os técnicos e o apoio administrativo apresentam o maior risco associado à automatização digital: Índice de Digitalização (ID) e Índice de Rotinização (IR) acima de 0,5.