Os resultados mostraram que a ansiedade, o tempo que os jovens passam diariamente nas redes sociais, o facto de terem fumado nas últimas duas semanas, o índice de autoestima, o índice de satisfação com os amigos, a família e a escola ou trabalho, bem como o número de amigos que têm em pessoa, são fatores determinantes na sua satisfação com a vida e no seu bem-estar. Além disso, o facto de terem praticado alguma atividade física nas últimas duas semanas também tem um impacto positivo no seu bem-estar.
Em geral, os jovens demonstraram fazer um esforço para manter comportamentos saudáveis evitando gorduras, ingerindo alimentos ricos em fibras, praticando atividades físicas, não consumindo drogas e não fumando. Os jovens entre 16 e 22 anos reportaram um nível de ansiedade suave. Os respondentes indicaram estar ligeiramente satisfeitos com a vida e ter um bem-estar pessoal moderado.
-
1A maioria dos jovens esforça-se para evitar gorduras (72%), consumir alimentos ricos em fibras (74%) e praticar atividades físicas (64%).
-
2A maioria dos jovens nunca consumiu drogas (95%) e nunca fumou (70%), embora 16% ingira bebidas alcoólicas 2-6 vezes por semana.
-
3Mais de um terço dos jovens sente-se triste ou deprimido e tem dificuldades em dormir, e mais de um quinto sente-se só.
-
4Os jovens apresentam um elevado grau de satisfação com os amigos (5,4) e com a família (5,0), e uma satisfação média com a escola (4,5).
-
5Os jovens estão ligeiramente satisfeitos com a vida (5,3) e apresentam um bem-estar pessoal moderado (77).
1. Introdução
A satisfação com a vida (SV) e o bem-estar têm vindo a tornar-se um foco de interesse, não só na sociedade, mas também na economia. Consequentemente, a promoção da SV e do bem-estar entre os jovens emergiu nos últimos tempos como uma preocupação social importante, pelo que a resposta à pergunta «O que faz com que os jovens estejam satisfeitos com a vida e se sintam bem?» torna-se uma questão fulcral. Assim, medir o seu grau de SV e o seu bem-estar, bem como identificar os comportamentos explicativos desses resultados, é crucial para os decisores políticos poderem tomar medidas que promovam a melhoria global da SV e do bem-estar nesta população.
Estudos anteriores têm demonstrado que alguns fatores sociais, a educação e/ou trabalho, o exercício físico, um estilo de vida saudável, alguns sentimentos, emoções e/ou distúrbios parecem ser fortes fatores explicativos para a SV e o bem-estar. Na verdade, os debates atuais na sociedade têm mostrado que os relacionamentos sociais, assim como a sua continuidade, a ajuda da família e dos amigos, e uma inserção na sociedade podem ser apoios importantes para os jovens. Além disso, estudos mais recentes mostraram que é na juventude que a satisfação com a vida se deteriora mais rapidamente em todas as regiões do mundo.
Dado que existem poucos estudos dedicados aos jovens portugueses e nenhum deles analisa globalmente os fatores explicativos da SV e do bem-estar, este estudo visa colmatar essa lacuna. O seu objetivo e analisar a importância dos comportamentos de saúde, da saúde mental, da autoestima e do envolvimento social, quer na escola, quer no trabalho, na SV e no bem-estar dos jovens portugueses. Em particular, visa (i) caracterizar a SV e o bem-estar dos jovens portugueses, e (ii) explorar e estudar quais são os comportamentos determinantes na sua SV e no seu bem-estar.
Os dados foram recolhidos através do inquérito nacional YOUTH WELL-BEING, realizado por entrevista telefónica a uma amostra de 1.500 respondentes, representativa da população jovem portuguesa, estratificada por género, grupo etário e região. Em termos de grupo etário, foram considerados três grupos: adolescentes (16‒18 anos ), jovens (19‒22 anos) e jovens adultos (23‒32 anos). O inquérito foi realizado entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, tendo sido aplicado um questionário constituído por algumas escalas de medição utilizadas a nível internacional e validadas para a população portuguesa. Dado que a amostra inquirida neste estudo era representativa da população jovem portuguesa, os resultados permitem tirar conclusões para esta população, fornecendo informação sobre a sua SV, o seu bem-estar e os seus determinantes.
2. Satisfação com a vida e bem-estar
A SV foi medida com base no índice de SV de Diener (Diener et al., 1985). Os jovens respondentes indicaram estar ligeiramente satisfeitos com a vida (gráf. 1), com um valor médio de 5,3 numa escala de 7 pontos para uma satisfação global com a vida.
Os rapazes reportaram uma SV mais elevada do que as raparigas, e os jovens com idade entre 19 e 22 anos apresentaram um nível de SV superior ao dos restantes grupos etários.
O bem-estar dos jovens foi medido usando o índice de bem-estar pessoal. Os jovens reportaram um bem-estar pessoal moderado, com um valor médio de 77 (note-se que os países ocidentais apresentam valores entre 70 e 80 para a população em geral) (gráf. 2). Os itens que permitem calcular o índice de bem-estar pessoal (gráf. 2) apresentam valores entre 66 e 82. O valor médio mais elevado refere-se à satisfação com a sua segurança (82), enquanto o mais baixo refere-se à satisfação com a sua vida espiritual e as suas crenças religiosas (66). Em geral, o valor médio de SV dos jovens é igual a 78.
Uma vez mais, foram os rapazes a reportar um bem-estar mais elevado, quando comparados com as raparigas. No que diz respeito à idade, os jovens entre 16 e 18 anos apresentaram um nível de bem-estar superior ao dos restantes; de fato, o nível de bem-estar decresce com o aumento da idade.
3. Comportamentos saudáveis
No inquérito foi solicitado aos entrevistados que caracterizassem os seus comportamentos de saúde em termos de prática de exercício físico, tipo de alimentação e consumo de tabaco, de álcool e de drogas.
Relativamente ao exercício físico, quase dois terços (64%) dos jovens respondentes afirmaram ter praticado alguma atividade física nas últimas duas semanas, excluindo as aulas de educação física que poderá ter na escola (gráf. 3), embora esta percentagem fosse inferior nos jovens adultos entre 23 e 32 anos (gráf. 4). Os respondentes praticaram, em média, 6 vezes atividades de exercício físico, tendo a duração da atividade realizada sido ligeiramente superior nos adolescentes entre 16 e 18 anos (1 h 25 min), quando comparados com os jovens entre 19 e 22 anos (1 h 18 min) e com os jovens adultos entre 23 e 32 anos (1 h 11 min). Note-se ainda que os rapazes praticaram, em média, 6,45 vezes atividades de exercício físico, enquanto as raparigas praticaram, em média, 5,62 vezes.
No que diz respeito à sua alimentação, a maioria dos jovens respondentes (72%) esforça-se de forma consciente para evitar alimentos que contenham gordura, colesterol e/ou açúcar (gráf. 3), embora esse esforço pareça ser mais forte nos jovens adultos entre 23 e 32 anos, pois 73% referiu realizar esse esforço (gráf. 4). É, ainda, de referir que este esforço depende do género dos jovens, com uma percentagem mais elevada entre as raparigas (54,5%) do que entre os rapazes (45,5%). Em relação ao consumo de alimentos ricos em fibras, 79% dos jovens respondentes esforça-se para consumi-los (gráf. 3), e essa percentagem não é diferente entre os grupos etários (gráf. 4). Esse esforço para consumo de alimentos ricos em fibras varia consoante o género dos jovens, com uma percentagem maior entre as raparigas (54,3%) do que entre os rapazes (45,7%).
Os jovens respondentes consomem regularmente fruta: quase dois terços (64%) consomem fruta diariamente, e 12% consomem 4 a 6 vezes por semana (gráf. 5). A frequência do consumo de fruta varia consoante o género dos jovens, sendo as raparigas quem reporta um consumo mais frequente de fruta.
Relativamente à frequência do consumo de um ou mais tipos de tabaco (cigarros, tabaco de enrolar, charutos, cigarros elétricos, tabaco aquecido, etc.), embora 70% dos jovens não tenha fumado nas últimas duas semanas, 23% referira fumar diariamente (gráf. 6). A frequência de consumo varia com a idade dos jovens e o seu género: os jovens entre 23 e 32 anos reportaram um maior consumo de tabaco, quando comparados com os mais jovens, assim como os rapazes, quando comparados com as raparigas.
No que diz respeito ao consumo de bebidas alcoólicas (cerveja, sidra, shots, vinho, gin, vodka ou outras bebidas) nas últimas duas semanas, embora 38% dos jovens tenha referido que não consumiu, 27% consumiu 1 vez por semana, 16% disse que consumiu 2‒6 vezes por semana, e 3% diariamente (gráf. 6). O facto de ter, ou não, consumido depende do grupo etário dos jovens e do seu género. No entanto, embora o consumo de bebidas alcoólicas pareça seguir o mesmo padrão que o consumo de tabaco, aumentando com a idade, no que diz respeito ao género o padrão inverte-se, pois são as raparigas quem reporta em maior percentagem consumir bebidas alcoólicas.
Quanto ao consumo de algum tipo de droga, seja fumada, cheirada, injetada ou tomada como comprimido ou pastilha, 95% dos jovens não consumiu nas últimas duas semanas, mas 1% consumiu diariamente, e a mesma percentagem 2‒6 vezes por semana, ou 1 vez por semana (gráf. 6). Mais uma vez, o facto de ter, ou não, consumido depende do género dos jovens, mas não do seu grupo etário. Na verdade, são os rapazes que reportaram em maior número terem consumido algum tipo de droga, quando comparados com as raparigas.
4. Saúde mental
A ansiedade dos jovens foi avaliada pedindo aos respondentes para indicarem a frequência com que sentiram uma série de problemas relacionados com a ansiedade. Os jovens entre 16 e 22 anos reportaram um nível de ansiedade suave, enquanto os jovens adultos (23‒32 anos) indicaram ausência de ansiedade (gráf. 7). Embora não existam diferenças significativas em termos de ansiedade entre os grupos etários, existem diferenças segundo o género, com as raparigas a reportarem, em média, valores de ansiedade mais elevados do que os rapazes.
Mais de um terço dos jovens afirmou sentir-se triste ou deprimido e com dificuldades em dormir (gráf. 8), sendo essa percentagem maior no grupo dos jovens entre 19 e 22 anos (gráf. 8). É, ainda, de realçar que mais de metade dos jovens se sentiu nervoso, ansioso ou no limite (gráf. 8), sendo também os jovens entre 19 e 22 anos a apresentar uma percentagem maior (gráf. 8).
Quanto aos sentimentos de solidão, embora a maioria não se tenha sentido só nunca ou quase nunca, é de realçar que mais de um quinto dos jovens se tem sentido sempre ou uma parte do tempo só (gráf. 9). Os sentimentos de nervosismo ou ansiedade, de tristeza ou depressão e de solidão, e as dificuldades em dormir dependem do género dos jovens, com as raparigas a reportarem estes problemas com maior frequência do que os rapazes.
5. Autoestima
Para medir a autoestima, foi pedido para os jovens se pronunciarem sobre se se consideram divertidos, se se acham bonitos, se conseguem fazer várias coisas bem-feitas, se gostam de si próprios, se acham que a maioria das pessoas gosta deles, se se consideram simpáticos e se gostam de experimentar coisas novas. Os resultados mostram que os jovens apresentam um elevado grau de autoestima em todos os grupos etários (gráf. 10), embora os rapazes reportem um grau de autoestima mais elevado do que as raparigas.
6. Envolvimento social
A satisfação com as relações com os amigos foi medida perguntando aos jovens o grau de concordância com várias afirmações, tais como: a) Os amigos são agradáveis com eles; b) Passam maus momentos com os amigos; c) Os amigos são excelentes; d) Os ajudam se precisarem; e) Os tratam bem; f) São maus para eles; g) Gostam de ter amigos diferentes; h) Se divertem com os amigos, e i) Consideram que têm amigos suficientes. A satisfação com as relações com a família foi medida perguntando aos jovens o grau de concordância com várias afirmações, tais como: a) Gostam de passar tempo com os pais; b) Consideram que a sua família é melhor do que as outras; c) Os membros da sua família se dão bem; e) Consideram que os pais os tratam de uma forma justa; f) Gostam de passar tempo com a sua família; g) Os membros da sua família falam de forma agradável entre si, e h) Consideram que se divertem com os seus pais. Os resultados mostram que os jovens apresentam um elevado grau de satisfação com os amigos e com a família, embora se mostrem mais satisfeitos com os amigos (gráf. 11). A satisfação com os amigos está relacionada com o género, uma vez que as raparigas reportam um grau de satisfação superior ao dos rapazes.
Os jovens foram também inquiridos sobre o tempo que passam por dia nas redes sociais, tendo respondido que passam, em média, 141 minutos, embora 25% passe mais de 180 minutos por dia. Quando inquiridos sobre o número aproximado de amigos que têm nas redes sociais, os jovens responderam que têm uma média de 861 amigos. No entanto, quando inquiridos sobre o número aproximado de amigos que têm em pessoa, os jovens indicaram que têm uma média de 26 amigos, e 25% dos jovens inquiridos tem apenas até 8 amigos. Na realidade, quando inquiridos sobre a frequência com que se encontram com amigos presencialmente, fora do contexto de trabalho/escola para convívio, embora 46,1% dos jovens afirme encontrar-se com amigos mais do que 1 vez por semana, quase um terço (31,2%) afirma encontrar-se apenas 1 vez por semana, e 12,6%, 2‒3 vezes por mês.
Relativamente à manutenção de uma relação amorosa com outro/a jovem, a maioria (83,9%) não manifestou dificuldades em manter uma relação amorosa.
7. Escola e trabalho
A satisfação com a escola foi medida perguntando aos jovens o grau de concordância com várias afirmações, tais como: a) Se sentem mal na escola ou universidade; b) Consideram que lá aprendem muito; c) Existem muitas coisas de que não gostam na escola ou universidade; d) Preferiam não ter de ir à escola ou universidade; e) Têm vontade de ir à escola ou universidade; f) Gostam de estar na escola ou universidade; g) Consideram a escola ou universidade interessante, e h) Gostam de participar em atividades escolares ou universitárias. A satisfação com o trabalho foi medida com base em duas questões: uma sobre a satisfação com o trabalho/emprego, e outra sobre a satisfação com a carreira.
Os resultados mostram que os jovens reportaram uma satisfação média com a escola, e que os indivíduos mais jovens que trabalham têm uma satisfação maior com o trabalho, quando comparados com aqueles que só estudam (gráf. 12). É de referir que a satisfação com o trabalho diminui com o avanço da idade, o que pode indicar que os indivíduos não se encontram satisfeitos com a sua carreira.
A satisfação com o trabalho está também relacionada com o género, uma vez que os rapazes reportaram um grau de satisfação superior ao das raparigas.
8. Determinantes da satisfação com a vida e do bem-estar
Os resultados do inquérito YOUTH WELL-BEING foram usados para perceber quais são os determinantes da SV dos jovens portugueses. Os resultados mostram que quanto maior é a ansiedade e o tempo que os jovens passam nas redes sociais por dia, menor é o nível de SV. É ainda de salientar que o facto de os jovens terem fumado nas últimas duas semanas tem um impacto negativo na sua SV. Pelo contrário, quanto maior a autoestima, a satisfação com os amigos, a família e a escola ou trabalho, bem como o número de amigos que os jovens têm em pessoa, maior é o nível da sua SV.
Pretendeu-se também perceber quais são os determinantes do bem-estar dos jovens portugueses. Os resultados mostram que quanto maior é a ansiedade e o tempo que os jovens passam nas redes sociais por dia, menor é o nível de bem-estar. O facto de os jovens terem fumado ou terem consumido drogas nas últimas duas semanas tem um impacto negativo no seu bem-estar. Pelo contrário, quanto maior a autoestima, a satisfação com os amigos, a família e a escola ou trabalho, bem com o número de amigos que têm em pessoa, maior é o nível de bem-estar. O facto de terem praticado alguma atividade física nas últimas duas semanas também tem um impacto positivo no bem-estar dos jovens.
9. Conclusões
Dado que a amostra inquirida neste estudo era representativa da população jovem portuguesa, os resultados podem ser extrapolados para essa população, fornecendo informação sobre os comportamentos de saúde, a saúde mental, a autoestima, o envolvimento social, quer na escola, quer no trabalho, sobre a SV e o bem-estar dos jovens portugueses.
De modo geral, os resultados mostram que os jovens respondentes indicaram estar ligeiramente satisfeitos com a vida e ter um bem-estar pessoal moderado. Os rapazes e os jovens com idades entre 19 e 22 anos reportaram uma SV mais elevada. Em termos de bem-estar, foram os rapazes e os adolescentes a indicarem um nível de bem-estar superior.
Os resultados mostram também que a maioria dos jovens se esforça para evitar gorduras, para consumir regularmente alimentos ricos em fibras e fruta, e para praticar atividades físicas. No entanto, o esforço por uma alimentação saudável é maior nas raparigas, enquanto a prática de exercício físico é maior nos rapazes. A maioria dos jovens nunca consumiu drogas ou fumou, mas mais de um quarto ingere bebidas alcoólicas 2‒6 vezes por semana. A frequência do consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas é estatisticamente dependente do grupo etário dos jovens e do seu género, mas o consumo de drogas é apenas dependente do seu género.
Relativamente à ansiedade, os jovens entre 16‒22 anos reportaram um nível de ansiedade suave; mais de um terço dos jovens afirmou sentir-se triste ou deprimido e com dificuldades em dormir, e mais de um quinto tem sentimentos de solidão, tendo as raparigas reportado estes problemas em maior número do que os rapazes. Estes resultados são particularmente importantes, uma vez que refletem um problema que se tem verificado na sociedade em geral, onde os níveis de ansiedade registados têm sido uma preocupação.
Os jovens apresentaram um elevado grau de autoestima em todas as classes etárias, mas os rapazes reportaram um grau de autoestima maior do que as raparigas. No que diz respeito à satisfação com as relações com os amigos e a família, os jovens apresentaram um elevado grau de satisfação com os amigos e com a família, embora se mostrassem mais satisfeitos com os amigos do que com a família. Os jovens reportaram um grau de satisfação médio com a escola, e os jovens que trabalham têm uma satisfação maior com o trabalho, estando os rapazes mais satisfeitos do que as raparigas em relação ao trabalho.
Os resultados deste estudo confirmam que os jovens passam muito tempo por dia nas redes sociais, pelo que nelas têm, em média, perto de 900 amigos. No entanto, quando inquiridos sobre o número aproximado de amigos que têm em pessoa, esse valor baixa para 26, mas um quarto dos jovens tem apenas até 8 amigos. Isto leva a que quase um terço dos jovens se encontre apenas 1 vez por semana com amigos presencialmente, fora do contexto de trabalho/escola.
Este estudo também identificou os fatores que explicam a SV e o bem-estar entre os jovens portugueses. A ansiedade, o tempo que os jovens passam diariamente nas redes sociais, e o facto de terem fumado nas últimas duas semanas, o índice de autoestima, o índice de satisfação com os amigos, a família e a escola ou trabalho, e o número de amigos que os jovens têm em pessoa são fatores que explicam a sua SV e o seu bem-estar. Além disso, o facto de terem praticado alguma atividade física nas últimas duas semanas também tem um impacto positivo no seu bem-estar.
Estes resultados podem ajudar as autoridades e os decisores políticos a definirem políticas que visem aumentar a SV e o bem-estar dos jovens. Este estudo identifica também as potenciais áreas de ação e intervenção para prevenir eventuais problemas psicológicos dos jovens portugueses.
10. Limitações do estudo
A dimensão da amostra, o facto de ser aleatória e representativa da população jovem portuguesa, e a utilização de instrumentos de medição utilizados a nível internacional e validados para a população portuguesa, leva a que as conclusões sejam robustas. Mas, apesar de as metodologias utilizadas serem reconhecidas como adequadas internacionalmente, este estudo não está livre de limitações. É de salientar que se trata de um estudo transversal, em que os jovens não são observados ao longo do tempo, pelo que não é possível identificar se existem fatores conjunturais que possam ter algum efeito explicativo no nível de satisfação e bem-estar desta população entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, ou se estas medidas de resultados sofreram alterações ao longo do tempo. É, ainda, de salientar que a maioria das questões se referiram aos comportamentos nas últimas duas semanas. Embora esta metodologia seja adequada, uma vez que permite que os respondentes possam responder de uma forma mais precisa às questões colocadas, pois se refere a um período de tempo específico e relativamente perto para que se recordem das suas atividades, tem como reverso da medalha o facto de poder estar a abranger um momento em particular em que os jovens possam ter tido um comportamento diferente do que teriam normalmente (p. ex., ter consumido bebidas alcoólicas porque tiveram uma festa nas últimas duas semanas).
Referências
DIENER, E., et al. (1985): «The Satisfaction With Life Scale», Journal of Personality Assessment, 49(1), 71-75.
HUEBNER, E. S., et al. (1998): «Further Validation of the Multidimensional Students’ Life Satisfaction Scale», Journal of Psychoeducational Assessment, 16(2), 118-134.
International Wellbeing Group (2013): Personal Wellbeing Index, 5th edition. Melbourne: Australian Centre on Quality of Life, Deakin University. Retrieved from https://www.acqol.com.au/instruments#measures.
Proctor, C., P. A. Linley, e J. Maltby (2009): «Youth Life Satisfaction: A Review of the Literature», Journal of Happiness Studies, 10, 583-630.
Sousa, T., et al. (2015): «Reliability and validity of the Portuguese version of the Generalized Anxiety Disorder (GAD-7) scale», Health and Quality of Life Outcomes, 13.
Classificação
Etiquetas
Temáticas
Conteúdos relacionados
A natureza como espelho e professora no diário de um jovem ativista
Como é que um jovem com autismo se relaciona com o ambiente natural? Esta análise apresenta a obra “Diário de um jovem naturalista”, o testemunho de um rapaz de catorze anos incrivelmente empenhado na conservação e na natureza.
Work4Progress da Fundação ”la Caixa”
O programa Work4Progress da Fundação “la Caixa” pretende ir além do apoio a projetos isolados, promovendo plataformas de inovação social para a experiência e a mudança sistémica.
As relações pessoais dos jovens em Espanha e Portugal: sociabilidade, isolamento e desigualdade social
Quais os factores que mais contribuem para o isolamento social dos jovens? Analisamos a influência da rede familiar nos países do sul da Europa.
A educação e o seu impacto nas oportunidades da população jovem
Que impacto tem a educação no acesso dos jovens ao mercado de trabalho? E nas oportunidades de participação social, cultural e desportiva? Analisamos a evolução dos percursos educativos em Portugal e em Espanha.
As reformas laborais reduziram o trabalho temporário nos trabalhadores jovens?
A redução da precariedade dos jovens desde as reformas laborais é muito evidente em Espanha e quase impercetível em Portugal. Porquê?