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O abandono académico no ensino superior: Fatores sociodemográficos, económicos e psicossociais na era pós-pandemia

Paula Paulino e Bárbara Gonzalez, Universidade Lusófona, HEI-Lab: Digital Human-Environment Interaction Lab; CICPSI-Centro de Investigação em Ciência Psicológica, Portugal; Sara Albuquerque, Universidade Lusófona, HEI-Lab: Digital Human-Environment Interaction Lab e Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal; Sónia Vladimira Correia, Universidade Lusófona, CIDEFES-Centro de Investigação em Desporto, Educação Física, Exercício e Saúde, Portugal; Teresa Pompeu Mendes, Universidade Lusófona, HEI-Lab: Digital Human-Environment Interaction Lab, Portugal;
Projeto selecionado no concurso para apoiar investigações sobre a realidade social dos jovens (FP22-1B)

O abandono académico é uma grande preocupação no ensino superior português e tem consequências que perduram no tempo. Quase 30% dos estudantes portugueses de licenciatura interrompem os seus estudos (Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, 2018) e os dados do Eurostudent (2019) confirmam a maior vulnerabilidade dos estudantes portugueses ao abandono académico.

O objetivo deste estudo de investigação foi caracterizar os contextos sociodemográfico, económico, académico e psicossocial dos estudantes do ensino superior e determinar quais destes apresentam maiores intenções de abandono académico. Com estes dois objetivos, o estudo começa por apresentar uma caracterização da amostra relativamente às variáveis acima mencionadas. Os inquiridos (n = 1404) foram selecionados através de um método de amostragem de conveniência, por quotas. A maioria dos estudantes do ensino superior inquiridos eram mulheres, solteiras, com idade igual ou inferior a 25 anos, naturais de Lisboa ou da região Norte. Cerca de metade dos inquiridos estavam deslocados da sua habitação e viviam em casas partilhadas. A maioria frequentava a universidade ou outro estabelecimento de ensino público e mais de um terço era trabalhador-estudante.

A intenção de abandonar a universidade reportada pelos inquiridos foi mais elevada entre os estudantes do género masculino, os estudantes deslocados de casa, os estudantes com responsabilidades de prestação de cuidados a outros, a frequentar cursos nas áreas de Línguas e Humanidades, em instituições do continente. Os principais fatores que influenciaram a intenção de abandonar a universidade foram ser-se estudante de licenciatura, sentir maior exaustão académica, ter dificuldades de adaptação académica, e ter uma baixa ligação social à instituição académica.

As autoras desta investigação apresentam uma visão aprofundada do fenómeno das intenções de abandono académico e uma abordagem que reconhece a sua complexidade multidimensional. Este fenómeno é maioritariamente determinado por fatores diretamente relacionados com a instituição académica, tais como a quantidade de trabalho, o ambiente e as relações sociais, o que demonstra a importância que as instituições de ensino podem ter na tentativa de resolução desta questão. O estudo sugere, ainda, medidas específicas que as instituições académicas deveriam adotar na prevenção do abandono no ensino superior.
Pontos-chave
  • 1
       Cerca de metade dos estudantes do ensino superior desta amostra (50,6%) vivia fora de casa, sendo que uma elevada percentagem destes estudantes deslocados vivia em casas partilhadas (57%) ou em residências universitárias (16%).
  • 2
       A principal fonte de rendimento dos estudantes provém da família (65,5%), e cerca de 40% dos estudantes conciliavam os estudos com o trabalho. Além disso, 20% dos estudantes declararam receber apoio financeiro do Estado.
  • 3
       A despesa média mensal com educação era de 538 euros. Cerca de 20% dos inquiridos referiram ter responsabilidades de prestação de cuidados, sobretudo a crianças, e quase metade da amostra afirmou que, após a pandemia, o seu rendimento pessoal ou familiar ficou «Ligeiramente pior» ou «Consideravelmente pior».
  • 4
       Os estudantes do género masculino, os estudantes que frequentam uma licenciatura, os estudantes deslocados, os estudantes com responsabilidades de prestação de cuidados, os estudantes inscritos em Línguas e Humanidades e os que frequentam instituições em Portugal Continental reportaram intenções de abandono mais elevadas.
  • 5
       Não se registaram diferenças nas intenções de abandono reportadas em função do sistema de ensino (público vs. privado), tipo de instituição (universidade vs. politécnico), estatuto de estudante (trabalhador vs. não trabalhador) ou horário das aulas (diurno vs. noturno).
  • 6
       Os fatores mais determinantes das intenções de abandono relatadas pelos participantes foram a exaustão académica, as dificuldades de adaptação académica a nível vocacional e a baixa perceção de ligação social ao campus.

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