-
1The relative influence of family background and skills – cognitive and non-cognitive – on social mobility is analysed across 21 advanced democracies.
-
2In general, the children of people with higher education levels have greater probabilities than others of attaining a better social position. Furthermore, they are better protected against descending to the working class, even if they have a relatively low level of skills.
-
3People who come from less educated families but who have greater skills have more opportunities for rising up the social ladder.
-
4In Italy and Spain, the effect of social origin on the destination position is very marked. The least privileged have very few probabilities of rising up the social ladder, and those of privileged origin have few probabilities of descending.
Em todos os países, os filhos de pais com ensino superior são mais propensos a acabar em posições sociais mais elevadas do que aqueles cujos pais não têm este nível de formação. Contudo, existem diferenças importantes entre os países. Nos países nórdicos, no Canadá ou nos Países Baixos, esta vantagem é relativamente pequena. Em contrapartida, em países como Espanha ou Itália, a influência da família de origem na mobilidade social é muito mais acentuada, e as diferenças nas oportunidades de mobilidade, tanto dos filhos de pais com alto nível de formação e como dos filhos com baixo nível de formação, são muito grandes.
Uma das questões centrais nos estudos sociológicos da mobilidade social é se as oportunidades de vida podem ser explicadas pelo meio social ou pelo mérito pessoal. Em outras palavras, se a posição social que uma pessoa ocupa tem mais a ver com a sua origem familiar ou com as suas próprias competências, aptidões ou esforço pessoal. Alguns sociólogos como Bell (1976), Dahrendorf (1962) ou Lipset (1987) teorizaram sobre o auge da meritocracia na segunda metade do século XX. Em contraste, outros como Erik O. Wright (1992), mais próximo da tradição marxista, argumentaram que as diferenças e divisões de classe persistem década após década.
Sendo esta uma questão tão crucial para os teóricos e para a sociedade no seu conjunto, a verdade é que até agora nunca foi testada empiricamente, em grande parte devido à falta de dados sobre competências e mobilidade social intergeracional a um nível comparativo. Por isso, esta investigação tem um interesse renovado e lança luz sobre uma questão clássica até agora não completamente resolvida.
1. The impact of family background and individual skills on social position
Numa sociedade plenamente meritocrática, a posição social de um indivíduo seria explicada apenas pelas suas próprias competências, esforço ou perseverança, e não pela origem socioeconómica da família em que nasceu. Isso obviamente serviria para explicar a mobilidade social ascendente e descendente. Em outras palavras, a meritocracia suporia que pessoas talentosas nascidas em famílias economicamente desfavorecidas teriam as mesmas oportunidades de alcançar altas posições sociais que os filhos de famílias ricas, mas menos talentosos ou com menos competências individuais, teriam de cair para as posições mais baixas da escala social.
Uma primeira análise, para o grupo de países considerados no presente estudo, revela um quadro um tanto pessimista do ponto de vista da meritocracia. Como mostra o lado esquerdo da Figura 1, os filhos de pais com ensino superior são mais propensos a aceder a cargos de gestão do que os filhos de pais sem instrução, mesmo comparando indivíduos com baixas competências (barras magenta) ou indivíduos com altas competências (barras azuis). Do mesmo modo, mas ao contrário, os filhos de pais com ensino superior são menos propensos do que os demais a desempenhar profissões da classe trabalhadora, mesmo quando possuem um baixo nível de competências (lado direito da Figura 1).
Em suma, estes dados mostram que indivíduos com um meio social privilegiado têm mais probabilidades de ocupar cargos de gestão do que os demais, e estão mais protegidos contra o risco de cair para a classe trabalhadora, mesmo quando possuem baixas competências cognitivas. Pelo contrário, os filhos de pais sem ensino superior têm muito mais probabilidades de acabar na classe trabalhadora e é mais difícil para eles ocuparem cargos de gestão e terem profissões altamente qualificadas.
É verdade que a mobilidade social ascendente não é impossível: aqueles com altas competências, filhos de pais sem instrução, podem chegar a ocupar, de facto, cargos de gestão e a tornar-se profissionais, embora as oportunidades sejam relativamente modestas, e certamente muito menores do que as dos indivíduos com pais com alto nível de formação. Isto quer dizer que, embora as oportunidades estejam longe de serem iguais para todos, ter elevadas competências cognitivas ajuda a melhorar a posição social daqueles que provêm das classes menos favorecidas e reduz a distância em relação àqueles que partem de uma posição social mais privilegiada.
Em todos os casos, o meio social foi medido a partir dos níveis de formação dos pais, e o destino social através de uma versão abreviada do conhecido esquema de classes de Erickson e Goldthorpe (1992), no qual a “classe de serviço” se refere a cargos de gestão e a profissionais altamente qualificados. As competências cognitivas foram medidas através dos resultados dos testes de numeracia no estudo PIAAC, equivalente ao estudo PISA da OCDE, mas voltado para a população adulta. Tais competências foram analisadas em termos relativos, ou seja, identificando como pessoas com “elevadas competências” aquelas que se encontram no terço superior da distribuição total.
2. Possibilities for upward and downward social mobility according to family background in various countries
Na altura, só foi apresentada uma visão geral das oportunidades de mobilidade social num conjunto de países. Em seguida, para determinar a influência relativa da origem familiar e das competências na mobilidade social ascendente e descendente em diferentes contextos, o modelo acima referido foi replicado para cada uma das 21 democracias avançadas consideradas no presente estudo. A Figura 2 mostra a diferença, representada em percentagem, nas oportunidades de acesso a posições sociais elevadas de filhos de pais com ensino superior em comparação com filhos de pais sem instrução. Ou seja, tanto a vantagem de uma origem familiar privilegiada no acesso a posições sociais elevadas (Figura 2A) como a proteção da origem familiar contra o risco de cair para posições sociais baixas (Figura 2B).
Em todos os países, os filhos de pais com ensino superior são mais suscetíveis de acabar em posições sociais mais elevadas do que aqueles cujos pais não têm esse nível de formação (ou seja, têm mais vantagem), e, ao mesmo tempo, estão também mais protegidos contra o risco de cair para posições sociais mais baixas. No entanto, existe uma grande diversidade de um país para outro em relação à influência da origem familiar na mobilidade social. Nos países nórdicos como a Suécia, Noruega ou Finlândia, a mobilidade entre posições é menos condicionada pela classe social, algo que também ocorre em outros lugares como o Canadá ou os Países Baixos. Em todos estes países, localizados no lado direito das Figuras 2A e 2B, tanto as vantagens relativas da mobilidade social ascendente para as pessoas que provêm das classes mais favorecidas como as dificuldades de mobilidade social ascendente para as que provêm das classes menos favorecidas são muito inferiores às de outros países. Em contrapartida, Itália e Espanha são países onde o efeito do meio social na posição de destino é muito acentuado. Por exemplo, em Espanha, os filhos de pais com ensino superior são 23,5 pontos percentuais mais propensos a ter acesso a posições sociais elevadas do que aqueles com características semelhantes mas cujos pais não têm instrução.
Mas o teste final para saber se uma sociedade é meritocrática é se os filhos de famílias favorecidas podem cair na escala social e acabar em ocupações elementares ou pouco qualificadas, o que é exatamente mostrado na Figura 2B. Aqui também se percebem diferenças sociais notáveis, uma vez que em todos os países os indivíduos que provêm dos meios sociais mais favorecidos estão muito mais protegidos contra o risco de cair para posições sociais mais baixas. É como se existisse uma espécie de “chão de vidro” que protegesse os filhos das famílias mais favorecidas de caírem na escala social, algo do que nem mesmo os países nórdicos, caracterizados pelo seu igualitarismo e as suas oportunidades de mobilidade social, são poupados. No extremo oposto, com grandes efeitos do meio social originário, estariam os países da Europa do Leste e do Sul, e especialmente Itália e Espanha, que mais uma vez aparecem como sociedades excecionalmente imóveis onde a origem familiar protege contra o risco de acabar em posições sociais baixas. Mais uma vez, em Espanha, os filhos de pais com ensino superior são muito menos propensos (diferença de 24,3 pontos percentuais) a acabar em posições sociais baixas do que os filhos de pessoas sem instrução.
Em geral, na maioria dos países, o efeito da origem familiar na mobilidade é reduzido para aqueles que têm elevadas competências. Contudo, no Japão, Estados Unidos e Reino Unido, o efeito de classe é mais acentuado para aqueles que têm elevadas capacidades cognitivas. O padrão é muito semelhante quando são utilizadas outras medidas mais restritivas de mobilidade social, tais como comparar as oportunidades de mobilidade de indivíduos com baixas competências cognitivas cujos pais têm ensino superior com as de indivíduos com altas competências cognitivas cujos pais não têm este nível de formação. Da mesma forma, também não existem provas claras de uma maior fluidez social entre as coortes mais jovens da população, nascidos após o estabelecimento do Estado do Bem-estar Social na Europa, e as coortes da população anteriores. Em suma, tudo aponta para o facto de que, apesar das diferenças entre países, em todos eles a origem familiar tem muito peso nas oportunidades de ascensão e desclassificação social.
3. Which are the most important: cognitive or non-cognitive skills?
Até agora as competências individuais foram abordadas em conjunto, sem distinguir entre competências estritamente cognitivas (aqui medidas através de pontuações em questões numéricas) e competências não cognitivas (aqui medidas através de três variáveis que captam a motivação, a iniciativa e a ambição individual). Sobre estas últimas variáveis, as denominadas “soft skills” ou “habilidades intangíveis”, o Prémio Nobel de Economia James Heckman tem trabalhado a fundo nos últimos anos, como importantes determinantes do sucesso ao longo da vida (Carneiro e Heckman, 2003; Cunha e Heckman, 2007). O que é realmente interessante para o estudo das competências e da mobilidade social é averiguar a existência de complementaridade entre elas, isto é, se as competências não cognitivas podem compensar a falta ou limitação de competências cognitivas (ou vice-versa).
Uma forma de identificar que tipo de competências são mais importantes é comparar o efeito das diferentes combinações sobre as oportunidades de mobilidade social. A Figura 3 pretende analisar exatamente esta questão em termos de oportunidades de ascensão social. Mostra que qualquer que seja o meio social da família, aqueles que combinam níveis elevados de competências cognitivas e não cognitivas têm muito mais oportunidades de mobilidade social ascendente. Nos casos intermédios, são os indivíduos com elevadas competências não cognitivas que podem aceder a mais oportunidades de ascensão social (mesmo tendo níveis relativamente baixos de competências cognitivas) do que aqueles com a combinação oposta, isto é, baixas competências não cognitivas e elevadas competências cognitivas. De facto, a vantagem de ter elevadas competências não cognitivas encontra-se mais em pessoas que provêm dos meios menos privilegiados e nem tanto em pessoas que procedem dos meios mais privilegiados. Em suma, isto sugere que, quando um indivíduo não tem níveis elevados de ambos os tipos de competências, aspetos não cognitivos como a ambição ou a iniciativa se tornam ainda mais importantes para se ter oportunidades de mobilidade social do que as competências estritamente cognitivas.
4. References
BELL, D (1973): El advenimiento de la sociedad post-industrial: un intento de prognosis social, Madrid: Alianza.
CARNEIRO, P. e HECKMAN, J. (2003): “Human capital policy”. In: HECKMAN, J., KRUEGER, A. (eds.), Inequality in America. MIT Press, Cambridge, Mass.
CUNHA, F. e HECKMAN, J. (2007): “The technology of skill formation”. American Economic Review, 97, 31-47.
DAHRENDORF, R. (1959): Las clases sociales y su conflicto en la sociedad industrial, Madrid: Rialp.
ERIKSON, R. e GOLDTHORPE, J. (1992): The Constant Flux, Clarendon, Oxford.
ESPING-ANDERSEN, G. e CIMENTADA, J. (2018): “Ability and mobility: The relative influence of skills and social origin on social mobility”, Social Science Research, 75, 13- 31.
LIPSET, S. M. (1960): El hombre político: las bases sociales de la política, Madrid: Tecnos.
WRIGHT, E. O. (1989): El debate sobre las clases sociales, Madrid: Facultad de Ciencias Políticas y Sociología, Universidad Complutense.
Classification
Tags
Subject areas
Related content
Nature as a mirror and a teacher in a young activist’s diary
How does a young person with autism connect with the natural environment? This review presents the work 'Diary of a Young Naturalist', the testimony of a fourteen-year-old boy incredibly committed to conservation and nature.
Work4Progress by the ”la Caixa” Foundation
The ”la Caixa” Foundation’s Work4Progress programme aims to go beyond supporting isolated projects, by promoting social innovation platforms for experimentation and systemic change.
Personal relationships of young adults in Spain and Portugal: sociability, isolation, and social inequality
What factors contribute most to the social isolation of young people? We analyse the influence of the family network in countries in the south of Europe.
Education and its impact on young people’s opportunities
What impact does education have on access to the labour market for young people? And on opportunities for social, cultural and sporting participation? We analyse the evolution of educational paths in Portugal and Spain.
Have the labour reforms reduced the temporary employment rate among young workers?
The reduction in the casualisation of young people since the labour reforms is very evident in Spain and almost imperceptible in Portugal. Why?