Estas orientações motivacionais, relacionadas com o sucesso e analisadas nesta investigação, fazem parte dos traços de personalidade ou competências não cognitivas amplamente estudados na que se denominou economia comportamental (behavioural economics), e têm uma grande relevância na trajetória de trabalho dos indivíduos (Bowles et al. 2001, Cunha e Heckman, 2007). Estas orientações são adquiridas muito cedo através de processos de socialização, provavelmente em combinação com certos traços de personalidade, sendo muito estáveis ao longo da vida adulta de uma pessoa.
O objeto do presente estudo é estabelecer uma comparação entre migrantes e os seus compatriotas que não migraram. Para isso, é necessário recolher informações de diferentes países. Por exemplo, para poder comparar apenas brasileiros que migraram para Portugal com brasileiros que não migraram, seria necessário não só obter informação recolhida em Portugal (apenas de brasileiros que são migrantes), mas também no Brasil (apenas de brasileiros que não migraram). Para poder estudar diferentes grupos de migrantes de países com distintos níveis económicos e distâncias culturais, foram utilizadas duas fontes de dados: por um lado, o Inquérito Social Europeu, que recolhe informação sobre migrantes residentes na Europa de países muito diferentes, dentro e fora da Europa; e, por outro lado, o Inquérito Mundial de Valores, que permite analisar residentes em países não europeus (por exemplo, Brasil, Marrocos, etc.) comparando-os com os seus compatriotas que migraram. Desta forma, foi possível comparar os traços motivacionais de, por exemplo, brasileiros que migraram para Portugal com brasileiros com as mesmas características, tais como idade ou nível educacional, que continuam a viver no Brasil.
Finalmente, para evitar confundir a seleção com um possível efeito de aculturação ou assimilação no país de destino, as análises foram circunscritas a migrantes que não residam no país de destino há mais de cinco anos. Além disso, foram aplicados vários testes adicionais visando garantir que todos os resultados são mantidos mesmo quando se consideram possíveis experiências que podem afetar as orientações, tais como o desemprego ou o isolamento social. No total, foram consideradas onze combinações de países de origem e de destino. Os grupos de origem e destino considerados são britânicos na Irlanda, alemães na Suíça e Áustria, franceses na Bélgica, Luxemburgo ou Suíça, polacos no Reino Unido e Irlanda, polacos nos países escandinavos, romenos em Espanha, romenos em países europeus ricos, turcos em países europeus ricos, brasileiros em Portugal, andinos (colombianos, equatorianos e peruanos) em Espanha e marroquinos em Espanha.
Para além do que é mostrado na Figura 1, o que é interessante não é tanto a análise conjunta de todos os países de origem e destino, mas sim os casos particulares de certas combinações de origens e destinos.