Os auxiliares de ação direta revelaram condições de trabalho mais difíceis, durante a pandemia, quer pelo aumento do número de horas de trabalho (+ 7 horas/semanais) quer pelos turnos rotativos. Turnos consecutivos de 12 ou mais horas e turnos noturnos, por vezes sem descanso, também contribuíram para esse impacto negativo. Mais de metade dos auxiliares de ação direta (55%) relataram que as suas vidas pessoais tinham sido afetadas, uma vez que fizeram mudanças na esfera familiar (não partilhando refeições ou quartos) ou em público (evitando espaços como os supermercados). Também relataram ter evitado expressões de afeto (abraços e beijos) e interações sociais (visitas a familiares ou amigos). Curiosamente, embora os auxiliares de ação direta revelassem dificuldades acrescidas nas suas condições de trabalho e um maior risco no trabalho do que os demais, uma percentagem similar de gestores (50%) indicou sofrer também impactos nas suas vidas pessoais e familiares e uma proporção ainda maior de técnicos superiores relatou os mesmos impactos (68%).
Os gestores precisaram de contratar, em média, mais seis novos profissionais, principalmente auxiliares de ação direta. Contudo, foram confrontados com dificuldades no recrutamento pela falta de candidatos, baixa qualificação e falta de recursos financeiros para assegurar essas novas contratações. Quanto aos candidatos, condições de trabalho pouco atrativas e o medo da infeção foram os principais motivos para a recusa das ofertas de trabalho.
Os resultados do inquérito estão alinhados com outros estudos que também revelam condições de trabalho adversas nas ERPI e uma escassez de mão-de-obra no setor dos cuidados. De acordo com a OCDE (2019), Portugal revela o rácio mais baixo de trabalhadores/pessoas idosas na Europa, com menos de 1 trabalhador por cada 100 pessoas com mais de 65 anos (enquanto que a Noruega e a Suécia têm 12,8 e 12,4, respetivamente). É provável que a pandemia tenha piorado esta proporção.
