Portugal enfrentou três vagas de covid-19 (de março a abril de 2020, de outubro a novembro de 2020, de janeiro a fevereiro de 2021), sendo a terceira a mais letal. Na primeira vaga, como em todo o mundo, o governo português percebeu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não estava preparado para lidar com a nova e emergente doença infeciosa. Assim, o governo manteve o foco na prevenção de casos através do isolamento e da quarentena, com graves consequências económicas. Ao mesmo tempo, reduziu o acesso aos cuidados de saúde para os doentes não covid-19. Durante a segunda vaga foram adotadas medidas mais localizadas, tais como o confinamento de determinados concelhos ou cidades, de acordo com o número de casos e o risco de infeção. Na terceira vaga, o número de mortes e de novos casos aumentou, e Portugal foi reconhecido como tendo o pior surto da Europa. Em resposta a tal situação, no final de janeiro de 2021, foi declarado um segundo estado de emergência e foram impostas medidas rigorosas, tais como o confinamento domiciliário obrigatório e o encerramento de escolas, restaurantes, todas as lojas não essenciais e fronteiras. Apesar de efetivas, estas medidas tiveram um impacto significativo nos cuidados de saúde e na economia.
O presente artigo fornece dados sobre a forma como a população portuguesa tem vivido a pandemia, do ponto de vista da saúde e dos cuidados de saúde, da qualidade de vida relacionada com a saúde (QVRS) e da saúde mental, das relações sociais, da situação laboral e económica e da satisfação com a vida e o bem-estar. O seu objetivo é (i) caracterizar estes resultados durante a pandemia de covid-19; (ii) compará-los com o estado da população portuguesa antes da pandemia; e (iii) identificar os fatores sociais que podem estar relacionados com estes resultados durante a pandemia de covid-19. Os dados foram recolhidos através do inquérito telefónico “H&well-being COVID” a partir de uma amostra aleatória representativa de 1.255 inquiridos da população portuguesa adulta, estratificada por género, grupo etário e região. Os dados foram recolhidos entre 24 de março e 20 de abril de 2021, isto é, durante o final do segundo confinamento nacional, que durou de janeiro a abril de 2021. Para calcular o impacto da covid-19 na saúde e no bem-estar dos cidadãos, os resultados do inquérito foram comparados com dados de estudos anteriores nos quais os autores mediram a QVRS da população portuguesa antes da pandemia e durante o primeiro confinamento.